O massacre no McDonald’s de San Ysidro: a tragédia que chocou os EUA em 1984

James Huberty e o grito de ódio: “A sociedade teve a sua chance!”

Em 18 de julho de 1984, às 15h40, o bairro de San Ysidro, em San Diego, Califórnia, testemunhou um dos capítulos mais sombrios da história americana. Armando Rodriguez, um menino de 11 anos, brincava com uma bola de futebol americano quando viu um Ford Mercury Marquis preto estacionar no McDonald’s da rua San Ysidro Boulevard. O motorista, James Oliver Huberty, desceu vestindo uma calça camuflada e uma camiseta escura, carregando uma bolsa com uma metralhadora Uzi 9 mm semiautomática, um rifle Winchester calibre 12 e uma pistola Browning HP. Segundos depois, um grito cortou o ar dentro do restaurante: “TODOS NO CHÃO!”

Os clientes, assustados, obedeceram. Não era um assalto. Huberty não queria dinheiro. Seu objetivo era matar. Sem explicações, ele abriu fogo contra as pessoas próximas à porta, movendo-se pelo restaurante com frieza aterradora, atirando em quem estivesse à vista.

Maria Rivera, que almoçava com o marido, Victor, e seus dois filhos, abraçou as crianças ao perceber o perigo. Victor implorou ao atirador que parasse, mas Huberty respondeu com um grito — “CALE A BOCA!” — e disparou 14 vezes contra ele. Victor caiu, morto. Jackie Reyes, uma mãe de 18 anos, foi atingida por 48 tiros. Nos braços dela, seu filho de 8 meses, Carlos Reyes, ainda estava vivo. Com crueldade, Huberty mirou na criança e disparou um tiro fatal nas costas. Enquanto vítimas agonizavam, ele voltava para “concluir” os assassinatos, caminhando entre poças de sangue.

Alguns tentaram fugir, mas foram baleados nas costas. Outros, como Alicia Garcia e colegas da cozinha, escaparam por uma escada nos fundos. No estacionamento, três amigos de 11 anos — Omar Hernandez, David Flores e Joshua Coleman — brincavam quando o tiroteio começou. Omar e David foram mortos enquanto tentavam alcançar suas bicicletas. Joshua, fingindo-se de morto, sobreviveu, carregando o trauma pelo resto da vida.

Às 16h07, a polícia de San Diego chegou ao local. Um tenente, sob fogo, pediu reforços pelo rádio: “Mandem a SWAT… mandem todo mundo!” Seis quarteirões foram isolados. Durante 77 minutos, Huberty enfrentou a polícia em um confronto que lembrava um filme de ação. Às 17h07, um atirador de elite da SWAT, com um rifle Remington calibre .308, acertou Huberty no peito, encerrando o massacre. O saldo: 21 mortos e 19 feridos, incluindo Carlos Reyes, de 8 meses, e Miguel Ulloa, de 74 anos. Na época, foi o pior massacre cometido por um único atirador na história dos EUA.

Bill Kolender, então chefe de polícia de San Diego, descreveu o evento como “a coisa mais horrível que vi em 28 anos”. Décadas depois, o massacre de San Ysidro continua a ecoar como um marco trágico, levantando questões sobre violência armada, saúde mental e falhas sistêmicas que ainda ressoam em 2025.

Imagens que Marcam a Tragédia

  • A proprietária da filial do McDonald’s é escoltada por um policial após o massacre. (Créditos: Corbis)
  • Funcionárias do restaurante saem sob proteção policial. (Créditos: Corbis)
  • A imagem que definiu a tragédia: Omar Hernandez, 11 anos, morto ao lado de sua bicicleta. (Créditos: Corbis)
  • Paramédicos socorrem Joshua Coleman, que sobreviveu fingindo estar morto, ao lado do corpo de Omar Hernandez. (Créditos: Corbis)
  • Equipes de resgate entram com uma maca, passando pelo corpo de Omar. (Créditos: Murderpedia)
  • Paramédicos tentam salvar uma vítima no local. (Créditos: Criminal Minds)

Quem Era James Huberty?

O McDonald’s, ícone da cultura americana de prosperidade e família, representava tudo o que James Huberty desejou, mas nunca alcançou. Nascido em 1942, ele enfrentou adversidades desde a infância. Aos 3 anos, contraiu poliomielite, que lhe causava dores crônicas e espasmos. Aos 7, sua mãe, uma fanática religiosa, abandonou a família para pregar pelo país, deixando Huberty com um profundo rancor. Criado em isolamento, ele encontrou companhia apenas em seu cão, Shep, e, na adolescência, desenvolveu uma obsessão por armas.

No ensino médio, conheceu Etna, com quem se casou em 1965. Formado em sociologia, trabalhou como embalsamador, mas sua dificuldade em se relacionar com pessoas limitava sua carreira. “Ele era bom com os mortos, mas não com os vivos”, disse seu chefe, Don Williams. Nos anos 1970, James e Etna tiveram duas filhas e viviam uma vida aparentemente estável, mas ele era reservado, quase hostil. Incidentes como ameaçar matar um cão por sujar seu gramado ou atirar em seu próprio pastor-alemão por arranhar o carro de um vizinho revelavam um temperamento explosivo. Etna também tinha conflitos frequentes com vizinhos, e o casal era conhecido pela polícia local como problemático.

A década de 1980 trouxe o colapso. A metalúrgica onde James trabalhava faliu, deixando-o desempregado. Após conseguir outro emprego, foi demitido por “instabilidade”. Em 1983, um acidente de carro agravou os efeitos da poliomielite, causando tremores em sua mão. A família mudou-se para Tijuana, no México, e depois para San Ysidro, vivendo em condições cada vez piores. James conseguiu um emprego como segurança, mas foi dispensado por desempenho inadequado. Sua saúde mental deteriorava-se rapidamente.

Um dia antes do massacre, ele buscou ajuda em uma clínica psiquiátrica, mas a recepcionista anotou seu nome errado (“Shouberty”), e ele nunca foi contatado. No dia 18 de julho, após almoçar com Etna no McDonald’s e visitar o zoológico de San Diego, ele disse: “A sociedade teve a sua chance.” Horas depois, ao sair de casa com roupas camufladas, respondeu à pergunta de Etna sobre seu destino: “Vou caçar seres humanos.” Ela achou que era uma brincadeira.

Huberty considerou outros alvos, como um supermercado e os Correios, mas escolheu o McDonald’s, um símbolo de tudo o que ele ressentia. Sua ação foi planejada, não impulsiva, refletindo meses ou anos de raiva reprimida. Após o massacre, exames mostraram níveis elevados de chumbo e cádmio em seu corpo, possivelmente devido aos anos como soldador, mas nenhuma substância psicoativa.

O Legado do Massacre

O massacre abalou os EUA e impulsionou debates sobre violência armada e saúde mental que permanecem relevantes em 2025. O McDonald’s suspendeu sua publicidade por uma semana, e a Burger King, em solidariedade, fez o mesmo. A filial foi demolida, e o terreno, doado à cidade, hoje abriga uma escola. Um memorial com 21 blocos de granito homenageia as vítimas, frequentemente adornado com velas e flores.

Etna Huberty processou o McDonald’s e a antiga empregadora de James, alegando que o glutamato monossódico dos alimentos e a exposição a metais pesados na metalúrgica causaram seus delírios. O processo, de 5 milhões de dólares, foi arquivado.

Em 2025, o massacre de San Ysidro é lembrado como um marco na história dos tiroteios em massa nos EUA, um fenômeno que, infelizmente, tornou-se mais comum. Ele expôs falhas no acesso à saúde mental — Huberty buscou ajuda, mas foi ignorado — e levantou questões sobre a facilidade de acesso a armas de fogo. Hoje, o caso é estudado em criminologia e psicologia, servindo como alerta para a importância de identificar sinais de instabilidade mental e prevenir a escalada de comportamentos violentos.

Análise Psicológica: O Perfil de um Assassino em Massa

Assassinos em massa como James Huberty são frequentemente classificados em dois grupos: psicóticos, que agem sob delírios ou alucinações, e psicopatas, que planejam seus atos com plena consciência. Huberty exibia traços de psicopatia, como falta de empatia (evidenciada ao matar seu cão), impulsividade e a tendência de culpar a sociedade por seus fracassos. Sua tentativa de suicídio, incomum em psicopatas, pode ter sido um momento de desespero, quando ele perdeu o controle sobre sua vida.

Diferentemente de assassinos em série, que matam ao longo do tempo, assassinos em massa agem em um único evento, buscando vingança ou notoriedade. Huberty planejou seu ataque meticulosamente, escolhendo o McDonald’s como um símbolo de sua raiva contra a sociedade. Estudos modernos sugerem que tais indivíduos alimentam fantasias violentas por anos, escondendo suas intenções até o momento do ato.

Em 2025, a psicologia forense enfatiza a importância de identificar sinais precoces, como ameaças verbais ou comportamentos antissociais. No caso de Huberty, sua esposa e conhecidos ignoraram alertas claros, como suas declarações sobre “caçar seres humanos”. A negligência de sistemas de saúde mental, como a falha da clínica em contatá-lo, também contribuiu para a tragédia.

A sociedade atual reconhece que a prevenção exige ação coletiva. Programas de intervenção precoce, maior acesso à saúde mental e leis mais rigorosas sobre armas são debatidos como formas de evitar novos massacres. No entanto, o estigma em torno de denunciar comportamentos suspeitos e a relutância em “se envolver” continuam sendo obstáculos.

Reflexão em 2025

Quatro décadas após o massacre, San Ysidro permanece como um lembrete do que acontece quando sistemas falham e sinais são ignorados. O memorial no local do crime é um espaço de reflexão, mas também um apelo por mudança. Em uma era marcada por tiroteios em escolas, shoppings e locais de culto, a tragédia de 1984 ecoa como um aviso: a violência armada e a saúde mental negligenciada são uma combinação letal. Como disse um sobrevivente em um documentário recente, “Se alguém tivesse ouvido Huberty, talvez aquelas 21 vidas ainda estivessem aqui.”

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Comments: 519Publics: 2659Registration: 26-12-2024

6 thoughts on “O massacre no McDonald’s de San Ysidro: a tragédia que chocou os EUA em 1984

  1. O esporte favorito do norte americano é matar gente em outro país. O segundo esporte preferido é matar um ao outro no próprio país.

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