O horror do caso Mangue 937: tortura, decapitações e vídeo que chocou o Brasil

Fortaleza, Ceará – Sete anos e meio após um dos crimes mais brutais da história recente do Brasil, o caso conhecido como Mangue 937 continua a assombrar o imaginário nacional, expondo a crueldade extrema do crime organizado.

No final da tarde de 2 de março de 2018, no manguezal do bairro Vila Velha, em Fortaleza, três mulheres foram atraídas para uma emboscada mortal sob o pretexto de uma reunião de facção. O que aconteceu em seguida foi uma sequência de horrores que desafia a compreensão humana: torturas prolongadas, decapitações com facão cego e tiros à queima-roupa, tudo gravado em um vídeo que viralizou nas redes sociais. Batizado como “Mangue 937” – em alusão ao código de uma das vítimas –, o crime chocou o Brasil pela frieza e pela inspiração em execuções do grupo terrorista Estado Islâmico.

As vítimas, Nara Aline Mota de Lima, de 22 anos, Darcyelle Ancelmo de Alencar, de 26, e Ingrid Teixeira Ferreira, de 25, foram julgadas como traidoras por uma facção cearense, rival de outra organização criminosa de origem carioca à qual eram supostamente ligadas. O que era para ser uma simples punição se transformou em um espetáculo de terror, planejado para intimidar rivais e reforçar o poder da facção no submundo de Fortaleza.

Um Pesadelo no Manguezal

Por volta das 18h, as três mulheres foram levadas ao manguezal por comparsas infiltrados. Lá, encontraram um grupo liderado por Francisco Robson de Souza Gomes, conhecido como “Mitol”, que, mesmo preso, ordenou o crime de dentro de uma cela. Seu braço direito, Jeilson Lopes Pires, o “Jê”, ficou responsável por filmar a atrocidade, enquanto Bruno Araújo de Oliveira, Rogério Araújo de Freitas, Júlio César Clemente da Silva e Jonathan Lopes Duarte executaram as ordens com uma violência que chocou até os investigadores mais experientes.

As imagens, que circularam em aplicativos como WhatsApp e redes sociais, mostram as vítimas amarradas, ajoelhadas e forçadas a gravar declarações humilhantes, dizendo que estavam “rasgando a camisa” da facção rival para se juntar à organização local. O que veio depois foi ainda mais grotesco. Nara Aline sofreu golpes de pá na cabeça, teve dedos, braços e pernas cortados com um facão cego, que, por estar sem fio, prolongou sua agonia, funcionando como um machado. Ingrid e Darcyelle enfrentaram torturas semelhantes antes de serem decapitadas. Darcyelle, baleada no peito, ainda estava viva quando teve a cabeça removida.

Os corpos mutilados foram esquartejados e jogados em uma ilhota no Rio Ceará, a cerca de um quilômetro da margem. Foram encontrados sete dias depois, em 9 de março, após um dos envolvidos revelar o local. Os laudos confirmaram as causas das mortes: decapitação para Nara e Ingrid, e um tiro para Darcyelle, com a remoção póstuma de sua cabeça.

A promotora Joseana França, que atuou no caso, descreveu a cena como algo nunca visto em seus 13 anos de experiência no Júri Popular: “O que aquelas mulheres passaram não existe. Foi uma crueldade que transcende qualquer limite humano.” O crime, segundo ela, foi planejado nos moldes das execuções do Estado Islâmico, com o vídeo servindo como propaganda para a facção cearense, a Guardiões do Estado (GDE).

Quem Eram as Vítimas?

Nara Aline era mãe de um menino pequeno e, segundo amigos, tentava deixar o mundo do crime. Darcyelle, apelidada de “DC”, tinha um histórico de pequenos furtos, mas era vista pela família como uma filha amorosa. Ingrid, a mais jovem, trabalhava como manicure e sonhava com uma vida longe das ruas. As três representam o rosto trágico de muitas mulheres no crime organizado: frequentemente recrutadas por necessidade, manipulação ou coação, elas acabam presas em um ciclo de violência que as transforma em alvos de guerras faccionais.

A Resposta da Justiça

A Polícia Civil de Fortaleza agiu rapidamente, identificando os suspeitos em menos de uma semana com base no vídeo e em depoimentos. Em fevereiro de 2019, cinco dos acusados enfrentaram o Júri Popular no Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza. As condenações somaram mais de 335 anos de prisão por triplo homicídio qualificado (motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa), tortura, ocultação de cadáver, associação criminosa e porte ilegal de arma. Francisco Robson e Jeilson pegaram 85 anos cada; Bruno e Rogério, 78 anos; e Júlio César, 8 anos e 6 meses. Jonathan, capturado em 2020, foi julgado em 2022 e condenado a 83 anos.

Rogério, que fugiu após o primeiro julgamento, foi recapturado em 2021 na zona rural de Mombaça, no interior do Ceará. Em 2025, a maioria dos condenados permanece em presídios de segurança máxima, como a Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, ou unidades estaduais no Ceará, como a Unidade Prisional Professor José Sobreira de Amorim, em Fortaleza. Informações recentes sugerem que Júlio César pode estar em liberdade condicional, mas detalhes sobre sua situação atual são escassos.

O Impacto Duradouro em 2025

Sete anos e meio após o crime, o Mangue 937 permanece como um marco sombrio na história do crime organizado brasileiro. O vídeo, que ainda circula em fóruns obscuros da internet apesar dos esforços para removê-lo, inspirou outros crimes semelhantes em estados como Rio de Janeiro e Amazonas, onde facções adotaram táticas de “propaganda de terror”. Em 2025, o caso ganhou nova visibilidade com documentários e podcasts, como um episódio recente de um canal no YouTube que analisa a brutalidade do crime com depoimentos de investigadores e familiares das vítimas.

Nas redes sociais, o Mangue 937 é frequentemente mencionado em discussões sobre violência faccional, com usuários expressando horror e comparando-o a execuções de cartéis mexicanos. O caso também reacendeu debates sobre a regulação de conteúdo violento online e a proteção de mulheres no contexto do crime organizado. No Ceará, leis estaduais contra tortura e violência de gênero foram fortalecidas após o crime, mas a luta contra as facções permanece um desafio.

O Mangue 937 não é apenas uma tragédia de 2018 – é um lembrete vivo de como a violência, amplificada por redes sociais e rivalidades criminosas, pode atingir níveis de crueldade inimagináveis. Como disse um investigador à época: “Esse crime não foi só para matar. Foi para mostrar que ninguém está seguro.”

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Comments: 519Publics: 2659Registration: 26-12-2024

2 thoughts on “O horror do caso Mangue 937: tortura, decapitações e vídeo que chocou o Brasil

  1. Fato e seguinte,cara foge do Rio de janeiro e vai para interior ceará ou Bahia e Amazonas lá eles vendo a pobreza local vê possível lucro que terá com dinheiro e armas que levaram da fuga do RJ,essas facção e como um vírus ela voa em silêncio,pessoas estranhas que surgi vindo de cidade grande tem que se visto como um fuga de algo que cometeu, futuramente e acredito nisso que EUA vai classificar PCC E CV como grupo terrorista e outras vierem depois entraram na lista, governo brasileiro não deseja isso porque assim o Brasil não poderá nega operações estrangeira em solo nacional,tenho muito a escreve mas deixa pra depois

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