O México se aproxima das eleições gerais em meio a uma onda de violência sem precedentes que tem afetado a campanha eleitoral. O assassinato do candidato a prefeito de Coyuca de Benítez, Jose Alfredo Cabrera Barrientos, na quarta-feira (29/05), chocou o país e levantou preocupações sobre a segurança dos candidatos e do processo eleitoral.
Barrientos foi morto a tiros durante um comício em plena luz do dia. O vídeo do assassinato, registrado por um apoiador, mostra o candidato sendo alvejado por 15 tiros à queima-roupa. O assassino foi morto por agentes da Guarda Nacional que faziam a segurança de Barrientos.
O assassinato de Barrientos elevou para 24 o número de candidatos executados desde o início da campanha eleitoral em setembro de 2023. A violência tem sido associada à atuação de organizações criminosas que buscam influenciar o resultado das eleições.
Javier Posada, coordenador do Seminário de Segurança Nacional da Universidade Nacional do México (Unam), afirma que a violência atual é sem precedentes. “Isso ocorreu por duas razões. Em primeiro lugar, nunca houve tantos cargos em disputa. Existe uma enorme quantidade de candidatos. Registros da Secretaria de Defesa Nacional e da Secretaria da Marinha mostram que pelo menos 1.200 postulantes pediram proteção pessoal, inclusive Jose Alfredo Cabrera, que foi assassinado na quarta-feira”, explicou.
Posada acrescentou que as organizações criminosas têm procurado bloquear a possibilidade de vitória dos candidatos que não correspondam aos seus interesses ou semear o medo na população. No departamento de Zacatecas, quase 200 mulheres renunciaram à corrida eleitoral por receio das ameaças e da violência criminal.
“Isso é muito mais sério e grave do que em outros processos eleitorais”, disse Posada.
Vicente Sánchez Munguía, professor investigador do Colégio da Fronteira Norte, destaca que a campanha eleitoral se encerrou com um assassinato dirigido e a queima-roupa. “Na campanha de 2018, houve 401 agressões contra candidatos; na atual, foram 749. Há uma violência, que faz vítimas, não apenas candidatos, mas também pré-candidatos e gente muito próxima dos partidos políticos. Várias regiões do México se tornaram ambientes de violência. O crime organizado está cada vez mais vinculado aos políticos locais e regionais do país”, explicou.
Munguía ressalta que a onda de violência tem afetado todos os partidos políticos mexicanos. “Também vemos uma sensação de impunidade. As altas autoridades do governo têm minimizado a violência. O presidente Andrés Manuel López Obrador afirma que isso é uma campanha da imprensa. A sociedade não pensa dessa forma. Em alguns estados, candidatos sofreram intimidações muito fortes e renunciaram às suas candidaturas”, comentou.
Sobre a execução de Jose Alfredo Cabrera Barrientos, Munguía sublinhou que o candidato tinha dois círculos de segurança e, mesmo assim, foi alvejado à queima-roupa, pelas costas. “É uma tema delicado. Não sabemos a capacidade de penetração do crime organizado no México”, disse.
A violência eleitoral tem gerado preocupação entre a população mexicana e os observadores internacionais. A Organização dos Estados Americanos (OEA) enviou uma missão de observação eleitoral ao México para acompanhar o processo e garantir a segurança dos candidatos e eleitores.
As autoridades mexicanas condenaram o assassinato de Barrientos e prometeram investigar o caso e levar os responsáveis à justiça. No entanto, a onda de violência continua a assombrar a reta final da campanha eleitoral, lançando dúvidas sobre a segurança do processo democrático no México.