Na madrugada de 25 de novembro de 2025, o mundo digital cearense foi abalado pela notícia da morte de Ruan Carlos da Silva Morais, de 18 anos, mais conhecido nas redes sociais como “Cearense do Grau”. O jovem influenciador, que conquistou milhões de seguidores com vídeos leves e radicais sobre o cotidiano nordestino, morreu durante uma intervenção policial no bairro Cágado, em Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza. O caso, marcado por versões completamente opostas entre a família e a Polícia Militar do Ceará (PMCE), reacendeu debates sobre violência policial, direção perigosa e o impacto das redes sociais na periferia.
O incidente aconteceu por volta das 2h da madrugada, na Avenida Padre José Holanda do Vale. Ruan pilotava uma motocicleta Honda CG 150 com a namorada, uma adolescente de 16 anos, na garupa. Segundo a versão oficial da PMCE, policiais da 1ª Companhia do 14º Batalhão foram acionados por denúncia de ameaça e se depararam com o casal em alta velocidade e “atitude suspeita”. Ao receber ordem de parada, Ruan teria fugido, disparado contra os agentes com um revólver calibre .38 e iniciado uma perseguição. Os policiais revidaram em legítima defesa. A moto acabou colidindo com o meio-fio, derrubando os dois ocupantes. Ruan foi atingido no pescoço e no tórax e morreu no local. A namorada levou um tiro no ombro, foi socorrida e permanece internada em hospital de Fortaleza, em estado estável e sob escolta policial.
No local foram apreendidos a moto, o revólver com munições deflagradas e intactas, além de pertences do casal. O caso foi registrado como intervenção policial e ato infracional análogo a tentativa de homicídio. A PM destacou que Ruan tinha histórico de direção perigosa e havia sido liberado recentemente pela Vara da Infância e Juventude.
A família contesta totalmente essa narrativa. A mãe, Marlene Fernandes, de 42 anos, afirmou em vídeo que o filho “sumiu” na noite anterior e que não houve troca de tiros por parte dele. “Meu menino não era bandido. Eles atiraram sem motivo, foi covardia”, desabafou, chamando os policiais de “assassinos”. A irmã e amigos próximos reforçam que Ruan já havia sofrido ameaças anteriores por causa dos vídeos de “grau” e que, desta vez, não estava gravando nem armado.
Ruan Carlos era um fenômeno das redes. Criado em Maracanaú, acumulava mais de 4 milhões de seguidores no Kwai, 507 mil no Instagram e centenas de milhares em outras plataformas. Seus vídeos misturavam humor regional com manobras radicais de moto – wheeling, “corte de giro” e “grau” nas ruas da Grande Fortaleza. Para muitos jovens da periferia, ele representava sonho, visibilidade e renda. A família diz que ele ajudava em casa com os ganhos das lives e parcerias e planejava migrar para conteúdos mais profissionais no YouTube.
O velório e enterro, realizados na tarde desta quarta-feira (26) no Cemitério de Maracanaú, reuniram centenas de pessoas. Uma motociata com dezenas de motos percorreu a cidade, com fogos de artifício, buzinaço e faixas de homenagem. Amigos e fãs custearam todas as despesas funerárias via pix em poucas horas. Influenciadores como Letícia Marques e Whindersson Nunes prestaram tributo nas redes, e as hashtags #JustiçaProCearense e #CearenseDoGrauVive seguem entre as mais usadas no estado.
A Secretaria da Segurança Pública abriu investigação interna, e perícias balística e necroscópica estão em andamento no IML de Fortaleza, com laudos esperados em até 30 dias. A namorada de Ruan, peça-chave do caso, ainda não prestou depoimento formal. A família, com apoio de advogados, promete acionar a Justiça e planeja atos pacíficos nos próximos dias.
A morte do “Cearense do Grau” expõe contradições brutais: a alegria dos vídeos de rua contra o risco real das manobras, a fama repentina contra a fragilidade da vida periférica, a desconfiança histórica entre polícia e comunidade. Aos 18 anos, Ruan sonhava grande. Hoje, deixa saudade, revolta e um vazio que ecoa muito além das ruas de Maracanaú.
Atualização 18h de 26/11: Ainda não há novidades sobre os laudos periciais. A família segue mobilizada. Que a verdade venha à tona e traga, ao menos, paz possível a Marlene, aos irmãos e a todos que amavam Ruan.
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Se não deve não corre.